segunda-feira, 25 de junho de 2007

Pensilvânia e Aristides IV – Na rota


A cidade cresce ininterrupta e velozmente.
Pensilvânia caminha e tem seu passo abruptamente interrompido pelo novo semáforo, que ordena que parem os andantes para prosseguirem os automóveis.
Pelo lado oposto surge Aristides. Rádio no ouvido esquerdo, copo de cerveja na mão direita. Suor por todo o largo corpo.
Pensilvânia faz bico de calor.
- Eh porco! Me segura essa loira que eu tô com o gogó seco...
Aristides pode ver Pensilvânia, qual boneca de vitrines, por detrás dos veículos em movimento contínuo. Busca seus olhos e, ao encontrá-los, sorri cheio de dentes e bebe de um só gole toda a cerveja de seu copo.
- Segue teu rumo Pensilvânia!
E complementa para si: Puta folgada...
E uma sirene rouca, ainda que estridente, soa de algum lado. Surge na rota veloz do ilusionismo urbano, um grande veículo gris que ostenta fuzis pendurados pelas janelas blindadas.
Durante um largo segundo tudo pára no tempo e no espaço. A cidade cresce estática.
Lentamente Pensilvânia é conduzida por um dos fuzis para o interior do veículo gris. Lentamente se lhe escapa um suspiro de chiclete de canela.
O tempo se rearranja. O espaço se reorganiza. O semáforo volta a piscar.
Velocidade habitual.
Vermelho. Amarelo. Verde.
Os automóveis retomam seus rumos.
Pensilvânia desaparece na rota veloz.
Aristides lança o copo pelos ares. O rádio firme na mão esquerda erguida.
- Gooooooooool do verdão!!!!!!!
Chovem gotas geladas de cerveja.


Marcia Bernardes
Kapota

Nenhum comentário: