quinta-feira, 5 de julho de 2007

Bibelô



Este planeta, além de azul, é bizarro.
Quantas coisas aparecem e desaparecem assim, num piscar de olhos, num acender e apagar de luzes?
O que será pior: Levantar-se sem ter ninguém a quem desejar um bom ou mal dia... ou sentir fome? – fome, digo, é estar sem comer, não ter nenhuma perspectiva de comer nenhuma comida nos próximos séculos.
O que é importante?

O fato de que este mundo nos reserva muitas surpresas não é mais surpresa para ninguém, então, com o que sonhamos?
Ultimamente os sonhos não se parecem com aqueles de antes. O mundo já mudou. Está mudando e daqui a bastantes anos ainda mudará. Assim, ainda temos muito por sonhar, mas, por mais que sonhemos o mundo parece igual, apesar de ter mudado.
O mundo muda para quem?
Ainda tem gente que quer mudar ainda mais o mundo.
Se eu mudasse o mundo deixava tudo a meu gosto. Feio não? Mas vai-se fazer o que frente a esta dura verdade. No fundo, quem quer mudar o mundo, tem sempre algum interesse pessoal.
Fraternidade, solidariedade e igualdade são os tranqüilizantes mais eficazes de nossos tempos.
Promover bazares beneficientes, quermesses beneficientes, feiras beneficientes, e toda sorte de beneficiências em barracas tornou-se o alívio para a cruz das culpas. Afago nas melenas de nossa falta de escrúpulos.
A diversidade é rica e deve ser preservada acima de tudo. Porém, como a diversidade contempla igualmente aos esclarecidos (que ganharam este título dos ignorantes) e aos ignorantes (que ganharam este título dos esclarecidos) em dado momento, alguém ordenará este mosaico.
Seguramente, nenhum esclarecido (ainda que decline do título) não permitiria que o mundo mudasse conforme os gostos dos ignorantes, pois, têm por certo de que os ignorantes não saberiam o que poderia vir a ser um mundo melhor (afinal ganharam seu título por demonstrarem brutalidade, falta de modos e sempre necessitarem de um líder). Desta forma, existem aqueles que estão mudando o mundo e preparando um belo campo para a vida futura aonde todos saibam ler as grandes obras, todos saciem a fome com finas e delicadas especiarias e todos freqüentem o bom teatro. Obviamente que o que é grande e o que é pequeno, o que é delicado e o que é grosseiro e o que é bom e o que é ruim, não é da competência do ignorante.
De seu lado o ignorante - digo daquele já conformado há séculos e, portanto, não declina de seu título - se deixa ser o bibelô da pretensa estante humanista. Paparicado, defendido e protegido, toda semana é afagado por espanadores de pena de ganso, de quando em quando os amos voltam seus olhos para alguma novidade, pois, está (sempre) num lugar de destaque da sala de jantar.
E ali fica. Parado. Olhando, diariamente, aos amos realizarem suas refeições.

Amélia Castro

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