segunda-feira, 23 de julho de 2007

Pensilvânia e Aristides VI – África


Pensilvânia tem os olhos inchados, o que torna o mundo espremido, apertado e encolhido. O cérebro soltou-se e chacoalha envolto pelo crânio. Brota suor grosso dentre os seios grandes, dentre as coxas plenas, do umbigo até que bonito. Tanto suor só pode vir da alma.
Aristides é um terremoto. Saliva espuma.
- O que um come o outro vai ter que engolir... e você pensa que eu gosto? A tua cara quebrou minha mão.
Pensilvânia, até então com a cabeça enfiada entre as pernas, ergue-se toda eriçada. Escancara a boca. Saltam-lhe os dentes em fileiras. Ninguém respirou e ela tem um naco de carne preso no canino.
Aristides sente formigar a própria carne que já não está mais ali. Espanto sem ar.
Pensilvânia sente um fiozinho de calor escorrer pelo canto da boca... Sorri. O Céu se esparrama todo. A Noite se esparrama mais. Hienas correm. Lobos disparam. Lobisomens não existem. E mais espaço comendo territórios. Destruição das fronteiras. Pensilvânia satisfeita roda veloz na lisura do espaço intensivo. Desmedida.
Aristides, buscando o naco de carne que um dia foi seu e que ele ainda sente no corpo que fica, chora a ausência de carne, de alma, de terra, de lugar, de estar. Depois blasfema a dor de ainda sentir alguma coisa.
Pensilvânia cospe saciada o que sobrou de nervos do pedaço de carne dura. Carne de homem. De homem que sente. Falta.
Segue seu rumo. Não existem mais fronteiras.
Pensilvânia dispara velocidade.
Aristides engole o próprio sal das próprias águas suas represadas e distribuídas em pequenos diques. Pequenos e separados por avisos de propriedade privada. Arfa mas tenta caminhar passo a passo. Primeiro um, depois o outro.
Aristides captura movimento.

Marcia Bernardes

Um comentário:

Tânia Grinberg disse...

Ei Má, parece que tá indo cada vez mais fundo! Essas figuras muito loucas; tanta coisa acontecendo dentro delas. E por fora, pura ação radical sanguenta, real...É muito bom!
Querida!