terça-feira, 17 de julho de 2007

25 de Junho 2007


Sorriu daquele jeito:
Como quem está sem graça, sem saber o que dizer.
Olhou de lado, mudou o lado, olhou para cima só as pupilas.
As mãos embaraçadas ora nervosas ora calmas – uma se encontrou segurando o queixo e a outra perdeu o lugar.
O tempo passou devagar o sorriso desbotou as mãos derreteram junto com o olhar. Tudo lento como o tempo naquele momento. Circular –
Sorriu do mesmo jeito, mexeu pra lá, mexeu pra cá.
Isso aconteceu por três dias, durante três dias o círculo não se rompeu.

Mugido das entranhas!
Um som potente e animalesco saiu pela garganta. De dentro do profundo poço, pareceu.
A voz destruiu o sorriso e deu às mãos um punhal as pupilas latejavam de vida!
Com o punhal abriu um rasgo largo na madeira.
Com o punhal criou -
Criou um barco.

Mas sorriu daquele jeito, mão brigando com mão pelo lugar confortável – o queixo.
Porque não quis o barco.
Por que não quis o barco?
Preferiu o avião mesmo o avião não havendo.
Esperou o tempo passar e foi bem devagar.
Arfou. No expirar:
O avião passou sobre sua cabeça e tremeu o chão e o mar – o barco afundou e o avião vôou para longe.

Quis uma carroça uma estrada muitas árvores.
Antes sorriu daquele jeito sim, daquele jeito que era seu. As mãos, os olhos, tudo fora de seu lugar tudo sem lugar.
Decidiu. E pensou -
Colocou a carroça andando sobre a estrada:
O Tempo Passou Devagar.

Tânia Grinberg

Foto: Sebastião Salgado

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bonito Tânia querida.
Um beijão pra ti