segunda-feira, 14 de maio de 2007

Pensilvânia e Aristides II – No viaduto


Sob o sol forte está Aristides. Parado e debruçado na barra do viaduto. Abaixo, na avenida, o movimento de automóveis é intenso, porém, ele tem um ouvido colado ao rádio por isso escuta a cidade pela metade.
- Ô porco!!!
É Pensilvânia quem se aproxima...
Aristides gira-se bruscamente e dá de cara com a mulher. Percebe justo atrás de Pensilvânia, dois sujeitos rolando pela calçada. Um dos sujeitos sustenta uma arma de fogo.
Os olhos de Aristides brilham.
Pensilvânia, orgulhosa do decote, sorri e diz consigo mesma:
- O porco só tem olhos pra peito.
Aristides volta novamente o corpo. Arruma a freqüência do rádio. Suspira insatisfeito...
- Essas merdas são sempre iguais... Todas iguais...
Pensilvânia ainda sorrindo, mas já sem o orgulho de antes, arruma os cabelos como que distraída...
- Quem vai levar a boa na final?...
Súbito soa um disparo.
Pensilvânia se abaixa. Aristides, com seu corpo, cobre o corpo da mulher. Segura firme o rádio.
Passam-se largos segundos.
Pensilvânia sorri maliciosa e leva a mão de Aristides até seu coração...
- Assustado porco?
Aristides se apruma. Olha firme os grandes olhos de Pensilvânia. Leva o rádio ao ouvido. Pilha acabando.
- Agora já não dá pra saber quem vai levar a boa.
Sai caminhando cheio de preguiça.
Pensilvânia vai até a barra de ferro do viaduto. Debruçada olha o movimento ininterrupto dos automóveis na avenida. Olha o movimento ininterrupto das sirenes, das buzinas, dos espantos. O único movimento sereno é do rapazinho que encara o sol forte enquanto seu sangue em fios penetra nas rachaduras do asfalto.

Marcia Bernardes

Kapota

Um comentário:

Anônimo disse...

Kapotas! Parabéns pela iniciativa... vamos trcar figurinhas! Publico coisas aleatoriamente em: www.limo-nada.blogger.com.br
Beijão!
Cecília