segunda-feira, 21 de maio de 2007

Mula


Eu sou uma mulher completamente feliz.
Procuro, ao máximo, não atrapalhar o bom andamento das coisas e desta maneira, a cada dia que passa, sou mais feliz. Já me aconteceram coisas desagradáveis sim... Repetidas vezes inclusive, mas, estas são coisas da vida que não me abatem.
Um dos segredos da felicidade consiste em estar de acordo. Assinar, acatar, calar e falar baixo são outros segredos da felicidade. Não devemos, de maneira alguma, duvidar de nada e tão pouco acreditar demasiado em algo, pois, estes são aspectos característicos dos deprimidos - podem perceber.
Existem aspectos ainda mais contundentes de minha plena felicidade e, um deles e o mais importante, é meu sono tranqüilo. Isto não troco por nada deste mundo! Sei que sou corretíssima: Cumpro com todos os meus deveres, sou pontual em meus compromissos, aceito as diferenças, nunca deixei de votar (e, diga-se de passagem, nunca votei branco ou nulo), nunca roubei, nunca matei, quando posso dou alguns trocados para as crianças de rua, chorei ao ver uma escola infantil russa explodir, não tenho dívidas, enfim, uma pessoa que, perdoem à modéstia, serve como exemplo de conduta.
O fato de montarem em cima de mim como se eu fosse uma mula burra (visto que nem todas as mulas são burras) deve-se, unicamente, a um característico distúrbio de personalidade de certas pessoas diferenciadas que co-habitam o mundo comigo.
Como já disse, aceito as diferenças e, portanto, isto me parece natural (apesar de não ser normal). Muitas vezes sei que faço papel de idiota, inclusive, o executo com precisão. Incrível! Eu sou uma idiota e tanto! Eu preciso me adequar ao mundo e o mundo, hoje em dia, não pertence mais aos espertos. O mundo é dos idiotas.
Uma beleza a felicidade... Não me incomoda o fato de ser uma idiota. Não, não. De modo algum! Imagine se uma mula (das inteligentes) se queixa do enorme fardo que leva sobre as costas? Não. Ela continua seu caminho sob o sol forte, atravessa o lamaçal e quando empaca é só dar-lhe algo que sacie sua fome e ela segue adiante. Ela não se queixa nem se ofende. Ela compreende que é este o seu papel no mundo, levar o fardo alheio que ela mesma nunca desfrutará, visto que são coisas que a ela – inteligente mula que é - não servem. Pois, comigo se dá o mesmo.
Sou quase uma mula inteligente. Digo quase por que não sou mula.

Marcia Bernardes

Kapota

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